Meu Sono

É meia noite
Sou cobrado por Morpheu
Mas meu corpo ainda resiste
Minha alma não se entrega
Penso que a TV é minha aliada nessa guerra
Mas ela é meu Judas
Com um beijo de imagens e lembrança
Fecha suavemente meus olhos
Enfim meu corpo é vencido pela minha fraqueza
Só me restará na manhã seguinte
Relatar o sonho que nunca tive

Meu Plágio

Minha noite é tua madrugada
Meu atalho é teu caminho
Minha passagem é tua parada
Teu tumulto é meu sozinho

Meu passeio é tua história
Meu lugar é teu mundo
Minha lembrança é tua memória
Teu enfático é meu vagabundo

Para mim só restou
Querendo-te com ganância
O sentimento que não me fartou
O significado da tua insignificância

Dieta Alfabética

Certa vez, quase morri
Sufoquei minha respiração
Com um EU TE AMO colossal
Preso na minha garganta

Eu tento não engulir mais palavras
Sopro-as
Cuspo-as
Vomito-as
Mesmo assim ainda me fazem mal

Sempre que as sopro
Derrubo pessoas erradas
Sempre que as cuspo
Sujo um rosto limpo
Sempre que as vomito
Sujo meus próprios pés

Mas assim será
Não consigo mais digerí-las
Sou vítima de um câncer alfabético
Por medo de errá-las
Guardei-as comigo intimamente demais

Análogo de Chronos

O tempo...
Que me consola
Que me levanta
Que me ensina
Que me corrige
Que me resolve
Que me escuta
Será o tempo um deus?
Que na minha solidão
Tem sido meu ombro amigo?
Eu sei que o tempo sempre passa
Mas enquanto eu ainda tiver tempo
Seguirei sem medo de cair
Sem medo dos meus erros
Sem medo do castanho do seu olhar
Porque para você, o tempo há de me deixar cego
Sem medo do que sua boca irá dizer
Porque para você, o tempo há de me deixar surdo
Ficarei leproso ao seu toque
Insípido ao seus beijos
Só espero o tempo passar
Para que em pouco tempo
Esse tempo chegue

Mundo Hermético

Contemplo o mundo
Mas não olho ao meu redor
Caminhando a passos tétricos
Vislumbro o futuro
Resultante de um passado hermético
Mas não me assusto
O dragão que pranteia chamas ainda está por vir
Que queimará, de uma só vez
Com tamanha tristeza
Deuses, heroísmos e reis

Assimetria Sentida

Eu nunca coube nos teus sonhos
Mas sempre foste o maior espaço por mim sonhado
Eu nunca fui tua vontade
Mas sempre foste minha maior veneração
Tu sempre me ignoraste
Eu sempre te afaguei
Choraste no meu ombro
Chorei no meu travesseiro
Larguei meu mundo por ti
Sou a parte do mundo por ti largada
Um dia dia você passará
Um dia eu ficarei
Um dia você voará
No momento em que eu pousarei

Aliterações

Quando a quantidade qualificada que quero
Me leva a lavar as larvas que me louvam
Vou voando envolto a você
Como um verme que vem avermelhando a carne
Como uma visceral pedra pura e pútrida
Que corriqueiramente corrói a corrente sanguínea
Que se infiltra em você só em ficar a fitar-me
Dou-lhe uma vida de veias vedadas
Na minha literatura literalmete aliterada

Eu

Eu sou um agrupamento de átomos
De moléculas excitadas
Ziguezagueando em minha própria órbita
Às vezes eu penso que sou Deus
Onipotente, onisciente e onipresente
Mas basta que um segundo se passe
Para que meu ego se canse exaustivamente
Não tenho muita afinidade com meu ego
Ele muitas vezes me deixa cego
Mas no mesmo instante ele me fortalece
Meu ego é tão parte de mim quanto eu sou dele
Eu sou o "eu" que sou
Meu ego é o "eu" que serei
Juntos, somos o agora e o sempre

Fartura

Já ma fartei do mundo

Do carro que nunca terei

Da mulher que nunca me amará

Do lugar que eu nunca estarei

Já me fartei do inferno que me espreita

Já me fartei do céu que me ignora

Do deus que não me escuta

Do amanhã que me apavora

Sempre me farta o ontem quando é hoje

Sempre me farta o hoje quando é agora

Sempre me farta o agora quando é sempre

O sempre sempre chega quando vou embora